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Aqui ficam três artigos meus bem recentes, sempre com o Porto como pano de fundo.
Se ainda pudéssemos querer alguma coisa de graça, que fosse agosto de volta ao sol. Sem isso, parece que todos os problemas que ainda estão lá à frente já nos estendem o tapete. É, em antecipação, o sonho que escorre pelo funil até ficar um fio. Uma luzinha que nos aquecesse o horizonte não era pedir muito. Temos um sol tão grande cá dentro e estas nuvens estão a tapá-lo.
Com doces nos enganamos, os tolos. A Dream Pils é uma "farmácia" de açucar que abriu portas na rua de Ceuta. Mais aqui.
Cinza sobre cinza. A cidade, que em agosto abre a pedra à luz, dissolve-se no céu em dias como este, foge-lhe o contraste com o azul, sobrepõe-se a dolorosa melancolia. Guarda-sóis são abrigos à intempérie, as havaianas incómodos nos pés, os calções estão húmidos, os óculos de sol acessórios do ridículo e, subitamente, falta-nos chá. A cidade desliza húmida, bela, mas irónica, espetando-nos uma gota nos olhos como a dizer que o fim do verão está já ali.
Ainda bem que choveu. Sol seria demasiada ingratidão. Não para ele, que iluminou as nossas vidas com a vida que deu a tanta história, mas para nós que só na chuva podíamos encontrar o sentido para o frio que sentíamos. João Paulo Seara Cardoso partiu e o Porto ficou mais cinza. Vai fazer muita falta a alma que tornou o Porto uma cidade das marionetas, que nos deus o riso de Vai no Batalha e o siso da Miséria e que nunca se rendeu, nunca deixou de ser um cidadão completo, de cabeça erguida. Acreditem, sei o que digo, homens como ele não abundam. Nesta cidade, onde um dia se anunciou que o Rivoli aceitava alugar-se para batizados e casamentos devemos continuar a encher o Teatro de Marionetas do Porto e a velar para que o Museu das Marionetas, com que ele sonhava, possa acontecer. Ele não merece menos.
Ao que me dizem, aquelas portas vermelhas no largo de São Domingos fecharam-se e com elas fechou o último armazém de mercearia na baixa do Porto, se calhar mesmo o último no miolo da cidade. Talvez fosse inevitável. O tempo em que a cidade era o entreposto onde vinham abastecer-se as casas de comércio do interior do país foi-se, esmagado pelas makros de hoje. Foi o tempo que encheu as ruas do Almada e de Mouzinho da Silveira do movimento da urbe comercial. Ainda há alguns resistentes, mas a mudança é imparável. E o problema não é acabarem. O problema é que no seu lugar só fica o vazio.
Fim de agosto, época de reencontrar velhos amigos. Um exercício fácil nos concertos das Noites Ritual. Lembrando-me que toquei na primeira edição em 1992, no molhe da Foz, só posso render-me ao espanto por, 18 anos depois o festival continuar, ininterruptamente, a dar de borla a melhor música portuguesa. Um grito no deserto. Ontem à noite, o ritual cumpriu-se com a nobreza e a alegria da música dos Diabo na Cruz e de Samuel Úria. Uma festança.
Sempre que vou à sua procura, vou no medo de que tenha fechado as portas, levada na cheia do turismo. Mas lá, está com a sertã para nos receber e as mesmas gentes de rostos secos. A Casa das Iscas, no Cais da Ribeira tem décadas a fritar os pastéis de polme de farinha de trigo com uma lasca generosa de bacalhau no seu interior. Grandes, tostadas com bom peixe, são uma deliciosa granada contra a ditadura das calorias. Uma com sopinha está o almoço feito. Com duas fazemos as tréguas com o mundo.
O circo do ar chegou à cidade mas acho que à terceira já dispenso. Os aviões não vão passar por aqui.
O mercado
Saudemos a resistência, os cimbalinos, as francesinhas, os estudantes, as bandejas cromadas, os tempos da nicotina, os finos, as cadeiras de madeira e o são convívio. Cem anos nesta cidade em encerramento é um feito que merece festa. Ainda este mês me deram nota do desaparecimento de uma alfaiataria, a Gentleman, com muitas décadas de bos serviços no corte e costura. Saudemos portanto o "Piolho". Parabéns!
Foto de João Miranda
O dia de São João parece-me a data natural para voltar a estas lides. Ausente durante uns tempos mas, tal como outros, não deixei de "andar por aí", ou melhor por cá. Este "cá", todo nosso, é razão para continuar. É favor embarcar, o rabelo, mesmo contra a corrente, vai continuar.
Tem muitos políticos, quase todos de esquerda, mas parece ser um bom ponto de partida para aquilo que ser quer de uma campanha eleitoral autárquica: discutir a cidade e área metropolitana. Fica a faltar a região.Aqui: http://in-ner-city.blogspot.com/ .