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Custódio Oliveira, antigo assessor de Fernando Gomes, apresentou um livro que é um excelente retrato, através da imprensa, do processo político, técnico e de discussão pública que logrou dotar o Porto com uma rede de metro. Agora que passam cinco anos da sua abertura e a cidade já nem se entende sem metro, vale a pena recordar que esta luta (inacabada) surgiu num momento em que a região metropolitana conseguiu superar as dificuldades levantadas por um país assimétrico. São lições que hoje fazem todo o sentido recordar, como sintetiza o jornalista do JN,
“Durante os primeiros mandatos autárquicos de Fernando Gomes viveu-se aquele que foi certamente, desde o século XIX, o período de maior afirmação e influência política do Porto no plano nacional. Lançou-se, também aqui com décadas de atraso em relação a conglomerações urbanas europeias de dimensão semelhante, o primeiro esboço de uma instituição metropolitana, ainda que apenas de articulação inter-municipal. Autarcas e dirigentes de partidos adversários deram sinais de disponibilidade para ultrapassar as lógicas paroquiais que são em Portugal um dos alicerces tradicionais do centralismo. As forças vivas da região mobilizaram-se em torno da ideia de uma regionalização política que viria a esboroar-se no desastre referendário de 1998.
(…)
Mas ler este livro obriga-nos também a reflectir sobre a precariedade dos ganhos obtidos no panorama mediático, que os cidadãos mais exigentes não devem dar por adquiridos. Nos últimos anos, a evolução verificada na indústria dos media (incluindo os processos de concentração, que geralmente são também processos de concentração territorial, e de sentido único) tem sido muito negativa para o Porto: houve jornais que desapareceram, outros que desinvestiram na informação local, e a paisagem audiovisual na região mantém-se pobre e letárgica.
Que a sociedade procura resistir a esta desertificação vê-se por exemplo nos blogues em que a inquietude cívica se manifesta por uma evidente vontade de participar no debate dos problemas regionais. Mas não basta. Sem uma rede de informação profissional mais forte e plural, que tenha em comum a vontade de olhar o Porto a partir do Porto (e não de Lisboa ou de qualquer ponto da estratosfera) não haverá “espaço público metropolitano” que resista. E, sem ele, o Porto terá ainda menos condições para se configurar como o que tão fortemente quis começar a ser nos anos 90: uma metrópole europeia capaz de enfileirar entre as que são dignas desse nome.” DPontes
Agora há água, onde havia sol. E há muitos estranhos, vestidos de gabardina, escondidos atrás de guarda-chuvas. Por onde andou esta gente que se encosta aos umbrais, ainda receosa de pisar os passeios? Os espelhos no chão, as luzes no ar, não chegam para os desembaraçar do manto de humidade que lhes tolhe os movimentos. São sombras da multidão que se foi agarrando aos dias luminosos, cantando em coro contra o determinismo do tempo. O raro eléctrico que passa rápido não chega para lhes devolver o conforto dessa cidade aberta. E nem a árvore-maior-da-Europa, é suficiente surpresa para os entusiasmar com um Natal que parece mingar à medida que se aproxima. DPontes
Sem morada. DPontes
Na cidade, aterrou mais um ovni. Vidros espelhados, escadas rolantes, decoração desajeitada e excessiva. Foi-se de vez a Fábrica de Sedas Nogueira, ficou a sua araucária e aí está o Gran Plaza (o que terão contra a língua portuguesa?). Se funcionar como “loja-âncora”, como aconteceu com o Via Catarina é uma boa notícia. Ainda é uma das melhores hipóteses para termos um íman contra a fuga para as praças de ar condicionado dos arredores. A péssima notícia seria se acabasse por retirar o comércio da rua. Os cadáveres das casas fechadas à sua volta, mostram bem como alguns oásis estão longe de acabar com o deserto. DPontes
A Universidade do Porto parece querer entrar no século XXI regressando à cidade. É um processo complicado, depois de se ter espalhado pelas margens da cidade, de continuar a cultivar o distante academismo, fazer com que regresse ao papel essencial que sempre deveria ter tido na vida da urbe. O mal está feito e vai ser muito difícil remediar. Mas o regresso da reitoria à Praça dos Leões é um bom sinal. Como o são o encontro de antigos alunos da UP que decorreu na semana passada, numa altura em que o Norte bem precisa de convocar todas as solidariedades, ou a revista Alumni, ou a loja aberta na reitoria com produtos da universidade. São pequenos sinais, mas vão no bom caminho. DPontes
Parecem umas bolotas verdes, desprezíveis, sem qualquer utilidade. E no entanto, se com um golpe de faca vencermos a casca grossa, no seu interior descobrimos uma colherada de um perfume floral, de um sabor doce que nos lembra paragens exóticas. São frutos de feijoa, uma árvore de belas flores e curiosos frutos, originária do sul Brasil. Uma herança das nossas andanças pelo mundo, um exemplar da riqueza da flora da cidade do Porto, que descobrimos preservada na quinta da Bonjóia. Uma sobremesa de Outono. DPontes
Rua Ricardo Jorge. DPontes
"Negócio, negócio
com sexo na montra:
nas casas do ócio
o amor não se encontra"
de António Leitão
Quem terá sido o energúmeno (palavra libertada) que se lembrou de colocar o feio cubo, no topo do palácio de Cristal? Quem terá sido o “criativo” que se lembrou de destruir a perfeita geometria da meia esfera, com esta ideia de paralelepípedo? E que raio de entidade reguladora é esta que permite uma OPA inestética sobre a nossa paisagem? Será isto publicidade? Será isto boa gestão? Lá que é feio não restam dúvidas. DPontes
Do meu carro, vejo os homens de vermelho (serão Pais Natal?) equilibrando-se no esqueleto de metal. Vai ser de luz a festa, mas até lá, com a ajuda de uma barracão branco, a praça esteve o mês todo de Outubro transformado num estaleiro. Com este antecipar do Natal, ou melhor, da época de compras, o ritual vai perdendo fulgor. No Verão de São Martinho, vamos estar de castanhas na mão, a olhar para as folhas de loureiro electrónicas, Quando chegar a altura, no 24, as filhoses ainda vão saber a mofo. DPontes