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Esta é “uma lenda fundamental e fundacional da cidade”, escreve Joel Cleto, antes de nos contar aquela que é só uma pequena amostra do mundo de histórias que nos traz a recente segunda edição de “Senhor de Matosinhos – Lenda, história, património”. Um belíssimo livro, fundamental para conhecer uma das mais populares romarias do Norte de Portugal, paragem obrigatória no roteiro da alegria, e que é também uma forma de nos encontrarmos com a história da cidade de Matosinhos. E Joel Cleto fá-lo com mão firme e inegável talento, ora leiam:
“Será durante este lendário transporte marítimo do corpo martirizado do santo desde a Palestina até à Galiza que ocorrerá o episódio que explica a associação da vieira a Santiago. Tal viagem, repleta de acontecimentos fabulosos e miraculosos, incluirá, com efeito, um encontro da embarcação que transporta o corpo do santo com um cavaleiro que ficará recoberto de vieiras, dando origem a esta associação e à importância simbólica que, a partir daí, esta concha assumirá no culto de Santiago. Diversas obras artísticas retratando este episódio, datadas do século XV, existentes em Itália e na Península Ibérica, não deixam grandes dúvidas sobre a grande difusão que, já então, tal lenda conheceria. Mas, que nos conta essa narrativa tradicional e para onde, para que cenário, nos remete?
Matosinhos é, desde há 400 anos, o local apontado como o da origem da associação da vieira à devoção a Santiago de Compostela. Desde então praticamente todas as versões redigidas da lenda, em Portugal, mas também em Espanha (Castellá Ferrer 1610, Cunha 1623, Cardoso 1666, Huerta y Veja 1736, Pinto 1737…) indicam como palco dos acontecimentos um vasto areal no lugar de Bouças (designação, até ao início do século XX, do actual concelho de Matosinhos). Foi esse o local escolhido, pela sua vastidão e largueza, pelo grande senhor romano da região, Cayo Carpo, para realizar as festas do seu casamento. A praia do Espinheiro. Correria o ano de 44 d.C.
Durante tais festividades, o noivo desafia os restantes cavaleiros para uma corrida invulgar de cavalos: venceria quem conseguisse penetrar mais longe mar adentro. Iniciada a prova, rapidamente Cayo Carpo se destacará dos restantes competidores. Para sua surpresa, e de todos os que permanecem no areal, o seu cavalo avança, desenfreado, em direcção ao horizonte e, miraculosamente, cavalgando sobre as águas semse afundar. Mas as surpresas não terminam para o senhor romano pagão. Maravilhado constatará que a sua montada se dirige para um barco, em pedra (!), que passa ao largo. Trata-se da embarcação que, velozmente e em apenas três dias, transporta o corpo de Santiago desde a Palestina até à Galiza. Perante os milagres de que é testemunha participativa, e face às explicações dos tripulantes do barco, Cayo Carpo converte-se nesse instante ao cristianismo.
Durante o seu regresso a terra, onde a multidão espera expectante e maravilhada por uma explicação, o noivo e o seu cavalo desaparecerão engolidos pelas águas do mar. E, quando a apreensão se começa a instalar entre as gentes, eis que o cavaleiro e a sua montada ressurgem já muito próximos do areal. Mas, novo milagre se havia processado: Cayo Carpo e o seu cavalo vêm completamente recobertos de vieiras, convertidas, a partir daí, num dos símbolos de Santiago. Nalgumas versões da lenda este episódio das conchas ocorrera antes, durante a cavalgada em direcção ao barco.
Nas narrativas mais antigas que conhecemos escreve-se que Cayo Carpo e a sua montada surgem na praia totalmente “matizados” de vieiras e, por tal motivo, este senhor romano passará a ser conhecido, desde então, por “Matizadinho” e, o local onde tudo isto se passou, por praia do “Matizadinho” – topónimo que evoluirá, durante os séculos seguintes, para Matosinhos”.
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(imagens retiradas do livro) DPontes
Não há como ir renovando a tradição com coisas boas. A Arcádia inventou estes dulcíssimos "manjericos", feitos de chocolates e amêndoas de licor e um pouco por todo o lado começa a crescer a moda do “bolo de São João”. Com sinais destes percebemos que esta é uma festa viva, que come sardinhas e bebe verde tinto, mas que não gosta que a boca lhe amargue. Para todos uma mágica noite de São João. DPontes
Por estes dias de festa no Porto, a venda de farturas é uma espécie de metáfora da cidade. "Isto está tão mal, menina, que o negócio quase não dá para a luz". Pouco passa da meia-noite e nas "Farturas Mário", junto ao Passeio Alegre, é já hora de limpar o chão pouco sujo de clientes inexistentes. Ali perto, no Largo do Calém, apenas um resistente afaga o balcão da sofisticada roulotte "Maria Cristina", onde a fartura, como tanta coisa por cá, cedeu lugar aos multi-sabores dos espanhóis ‘churros’. Amanhã, dizem os vendedores, a festa anima e a coisa melhora. Para o ano, ou para o outro (o ano de todas as eleições), pode ser que a coisa melhore mais. Digo eu… ALeite
Esperar os domingos, para ler no JN mais um pedaço de Porto, é o prazer de poder olhar a cidade todos os dias com novos olhos. O melhor contador da sua história, Germano Silva, tira do anonimato tudo aquilo que nos rodeia, dá curriculum às pedras. As ruas ganham outra vida, as casas enchem-se de gente, das igrejas saem as procissões, há festas nas praças e fontes que nunca vimos, mas onde quase podemos beber água. Se somos saciados a um ritmo semanal, imaginem agora a festa que é encontrarmos essa outra cidade reunida num livro. "Porto da História e da Lenda", é o novo livro de Germano Silva, em que reúne muitas das crónicas publicadas no JN. É apresentado esta sexta, na biblioteca Almeida Garrett, no Palácio de Cristal. Nós é que ganhamos, ele é que está de parabéns. DPontes
Tantas noites, na noite mais pequena do ano. Como as descritas por Jaime Napoleão de Vasconcelos, em “O Tripeiro” de Junho de 1953.É a festa de São João no século XIX, um banquete de cheiros e ruídos, um fogo que com um suspiro podemos tentar tocar.
“O fogo do entusiasmo, como verdadeira ignição começou de irrompe, de alastrar, de propagar-se e, dentro em pouco, toda a rua do Almada esplêndida de soberbas luminárias, feitas a gás sobre armações de ferro, arranjadas em arcos dos mais soberbo efeito.
E eis que a Praça Nova, invadida por seu turno, se apresentava transformada num colossalíssimo arraial, com balões venezianos, filarmónicas, galhardetes, tabuleiros, abadas e tendinhas para a venda de regueifas e pães doces, manjericos e alhos porros, cidreiras e ervas bentas, tudo numa profusão inconcebível.
No ambiente, um chavari de ensurdecedor, do qual se encarregavam as matracas, os assobios, as bombas de clorato, os buscapés, os foguetes, os morteiros, e a vozearia, o alarido da multidão levada ao rubro, que ora cantava, ora fremia, ora bramava, sob o ferrão tarantulesco da folia.
Assim, ano após ano, o fogo foi lavrando por todo o centro da cidade, onde, por fim, não houve rua que não fosse embandeirada, e não armasse, com mais ou menos imponência, a sua cascata de santinhos.” DPontes
Desenho de Sebastião Sanhudo in "O Sorvete" - nº 56, 2º ano, Porto, 1897.
Este era o aspecto da Rua de Ceuta, antes do dilúvio dos últimos dias. Ainda não era meio-dia, não havia um operário em toda esta extensão de obra. Assim percebe-se melhor porque é que o centro da cidade vai entrar no Verão sitiado por ruas esburacadas. DPontes
Ainda bem que se multiplicam os sinais de que a festa vem aí. DPontes
A missa vai começar, a capela já está montada na Praça D. João I. Esta Igreja exige luxo, penteados com assinatura, agenda social e vestidos a rigor. O espectáculo não sobe ao palco, espelha-se nos flashes dos fotógrafos e nas câmaras de tv. O teatro cor-de-rosa no seu melhor. DPontes
(Praça da Liberdade)
Está de volta o homem do tripé e do cavalinho.. DPontes
(Rua de Belmonte)
No granito, começam a despontar sinais de cor, a puxar a festa que se deseja. Nestes dias é bom passear pela zona histórica, nas traseiras dos roteiros turísticos, e descobrir a romaria que ainda não montou banca. Já há varandas enfeitadas, alecrins deixados à porta para apanharem sol. Aqui a festa não é só uma data marcada no calendário, é um sentimento que cresce, um ciclo que se renova. D.Pontes
Andaram os portuenses a lutar para manter o Coliseu laico e aberto a todos, para o Rivoli se transformar numa igreja católica festivaleira e os pastores do Reino de Deus ganharem concorrente forte. O La Feria crê no Norte beato e vai dar música para levar o rebanho à sua missa. Acho que ainda nos vai fazer falta um exorcismo. DPontes