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Está gravado na pedra: “1685 @”. Sim, o “arroba” que nos habituamos a empregar nos endereços de e-mail, está em baixo relevo nas pedras do centro histórico do Porto, em datas do século XVII e XVIII. Para que não se pense que é uma obra do acaso, a inscrição que surge na praça de São João Novo, repete-se no beco do Monte de Judeus, com a data de 1706. Os dois locais onde foram fotografadas estas inscrições encontram-se numa zona da cidade habitada pela comunidade hebraica. Germano Silva, que detectou estes estranhos @, não lhes encontra uma explicação. Será que alguém tem uma resposta? DPontes Fotos Artur Machado
Parecia que tinha sido ontem que as máquinas tinham deixado de costurar os tecidos brancos. Depois de largarem as batas nos cacifos, as costureiras desceram as escadas e picaram o ponto, ainda a tempo de cumprimentarem o gerente que se preparava para baixar as cortinas de ferro. Lá dentro, para mais uma noite, ficavam em repouso as sedas, os tules, as rendas, à espera de gente feliz que as quisesse vestir.
Mas houve um dia que foi o último. Na rua Galerias de Paris, na praça Carlos Alberto, as portas da Tito Cunha fecharam por falência. Esquecido numa das salas ficou o quadro bordado com que, em 2000, se comemoraram 40 anos de “Um sonho/ Uma realidade”. Fugiram as noivas, escassearam os petizes para as comunhões e a grande loja dos dias especiais acabou. Ontem foram a leilão os restos. DPontes
Agora só ouvimos os carros. Até há bem pouco tempo, na esquina da Rua José Falcão, podíamos fugir-lhes, ouvindo a concertina de Rogério Pinto. Tinha lugar cativo à porta de um antiquário que entretanto desapareceu. Na montra, ficou o anúncio do óbito do músico daquela esquina. Rogério Pinto regressou à terra de Brufe, Famalicão, no dia 2 de Maio. Volume desligado. DPontes
Ainda antes da vitória, já havia quem acreditasse e o dissesse na parede. Na segunda feira, a cidade haveria de roubar o azul ao céu e acordar com os olhos cheios da ilusão de um dia novo. As vitórias são preciosas, ajudam-nos a levantar o véu que cobre estes dias. DPontes
Pelas mãos do mestre Germano Silva, chega-nos esta imagem do interior da Margaridense. Ainda era tempo de coisas doces. DPontes
O Porto está cheio de cães com donos que não apanham os detritos dos animais, obrigando os passantes a deitar mais os olhos ao chão do que aos telhados, desperdiçando assim uma das mais gloriosas maneiras de absover a cidade. O Porto está cheio de cães com donos que os passeiam ao fim da tarde presos por trelas curtas, bem curtas, puxando amiúde as trelas para suster a ansiedade dos animais que não podem correr porque em quase lugar nenhum da cidade os cães podem correr à vontade. O Porto está cheio de cães que aguentam a vontade de fazer xixi um dia inteiro até chegar o fim da tarde e poderem aliviar-se junto a um dono inflexível, que não os deixa andar, correr e mostrar alegria por passear na rua. O Porto está cheio de cães com donos que lhes puxam pelas coleiras e os mandam calar a toda a hora na rua e dentro dos apartamentos pequenos onde moram estes cães que não merecem os donos que têm. O Porto está cheio de cães que não correm, não saltam, não suspiram e nunca ladram.
O Porto está cheio de cães infelizes.DMota
No mesmo ambiente de delírio, que nos pode fazer encontrar neve na 31 de Janeiro e um rally nas Antas, alguém decidiu traçar na parede a medida de um desejo. DPontes
É com enchentes destas, no Metro do Porto, que melhor se percebe como abrir o Metro da Margem Sul, sem clientes, é uma enorme piada de muito mau gosto. Esta era uma carruagem alegre. Os adeptos do F.C. Porto, partiam para uma viagem a que já só faltam duas paragens. DPontes
“No 1º de Maio, no Douro, Beira Alta, Minho, etc. enfeitam-se as portas das casas com ramos de giestas, chamadas Maias que aqui no Porto são vendidas pelas ruas no último de Abril. O povo dá destes costumes duas explicações (…) a) Quando a virgem foi para o Egipto, deixou pelo caminho muitos ramos de giesta para não se enganar na volta; b) Quando Jesus Cristo nasceu, os judeus procuraram-no para o matarem e, como soubessem que ele estava em certa casa, colocaram à porta um ramo de giesta, a fim de, no dia seguinte, o prenderem, Nesse dia, porém, todas as casas da povoação apareceram marcadas e os judeus não puderam dar com ele.”
Este é o relato feito por José Leite de Vasconcelos, em 1882, citado por Hélder Pacheco, no livro “Tradições Populares do Porto”. Apesar das interpretações cristãs, para a maior parte das pessoas, deste costume antigo, subsistiu a ideia de que os ramos de giestas, colocados nas entradas das casas, se destinam a evitar a entrada dos maus espíritos, do Diabo. Já pouca gente mantém esta tradição florida. Encontrei este exemplar murcho na rua do Marco, no Candal. DPontes
O Porto está cheio destes ovos. Calcorreamos ruas de cascas abandonadas, marcadas por rachadelas, buracos, casulos vazios sem vozes para atapetar as paredes de pedra. O frio passa forte por este granito silencioso. A cidade gela.
Às vezes dá-se um milagre. O tal da vida. Este está a ser chocado, ali para os lados do Bonjardim. DPontes